A chocante notícia do assassinato de uma família em Itaperuna, no Rio de Janeiro, cometido por um adolescente de 14 anos com o apoio de sua namorada virtual de 15 anos, apreendida em Água Boa, no Mato Grosso, revela uma triste e urgente realidade: o abismo entre o mundo digital vivido por crianças e adolescentes e o acompanhamento das vidas desses jovens presencial ou no mundo virtual, no qual estão submersos, muitas vezes ausente, por parte de suas famílias. Mais do que um caso policial, o episódio escancara grave falha educacional e social que exige reflexão e ação imediata.
Segundo a Polícia Civil, o casal de adolescentes teria se conhecido por meio de um jogo online. Detalhe: o jogo online no qual os dois se inspiraram é o The Coffin of Andy and Leyley, que retrata um casal de irmãos em uma relação incestuosa que assassina os pais.
No caso dos jovens citados, a motivação para o crime, além do desejo de se encontrarem fisicamente, teria envolvido a reprovação dos pais ao namoro virtual e um plano para usar R$ 33 mil do FGTS do pai como meio de financiar a viagem. A frieza com que o garoto relatou o assassinato dos pais e do irmão de 3 anos, e o envolvimento da adolescente, que também pretendia matar seus próprios pais, nos força a olhar para além do sensacionalismo, absurdo e extremo deste caso e examinar as causas estruturais que permeiam essa tragédia.
Onde falhamos?
A adolescência é um período marcado por transformações emocionais intensas, busca por identidade e experimentações. Quando esses processos ocorrem em ambientes digitais desprotegidos, sem a mediação adequada de adultos responsáveis, o risco de exposição a conteúdos nocivos, manipulação emocional e vínculos perigosos cresce exponencialmente.
A ausência de acompanhamento familiar no uso das tecnologias é um problema estrutural no Brasil. Muitos pais desconhecem o que os filhos consomem online, com quem interagem, que plataformas utilizam e quais valores estão sendo reforçados nesses espaços. A ilusão de que os jogos online, redes sociais digitais e aplicativos em geral, inclusive os de mensagens, são apenas passatempos inofensivos pode esconder dinâmicas violentas, discursos de ódio, aprofundamento de preconceitos, exploração sexual e até aliciamento para crimes.
A urgência da educação midiática nas escolas e em casa
A educação midiática, para quem ainda não sabe, campo que promove a compreensão crítica, ética e segura da internet, mídia e das tecnologias digitais, precisa ser tratada como prioridade na formação de crianças, adolescentes, pais, idosos e educadores. Não se trata de proibir ou demonizar o uso das tecnologias, mas de ensinar a usá-las com consciência, responsabilidade e empatia.
Será mesmo que todos sabem que estão presos em bolhas algorítmicas ou mesmo como os algorítmos ditam o que ou que conteúdo chega até ele por meio das redes e plataformas, por exemplo?
Famílias precisam ser preparadas para dialogar com os filhos sobre os perigos e possibilidades da internet. E para isso, pais, responsáveis, avós precisam igualmente saber como a rede funciona. Isso envolve não é só sobre instalar filtros ou monitorar o tempo de uso de telas de crianças e jovens. É sobre construir vínculos de confiança e escuta ativa, em que crianças se sintam à vontade para compartilhar dúvidas, vivências e até situações de risco que estejam vivenciando.
É sobre aprender como a internet funciona e saber lidar com ela a partir dessse conhecimento. É sobre usar o bom senso, discernimento e observação para não se perder no infinito de informações e conteúdos que recebemos por minuto, correndo o risco de acreditar no erro como se fosse o correto.
E sua pergunta para mim pode ser: o que pode ser feito?
Estabelecer regras claras de uso de internet, jogos e redes sociais, conforme a idade dos filhos.
Participar ativamente da vida digital das crianças, buscando saber que jogos estão jogando, quem são seus amigos virtuais, quais canais, redes sociais, aplicativos e influenciadores acompanham.
Promover o diálogo constante sobre o que é segurança digital, respeito nas interações online e o que fazer diante de conteúdos ou convites estranhos, sensacionalistas ou duvidosos.
Buscar formação e informação! Pais e educadores precisam se atualizar sobre o universo digital infantojuvenil. Precisam estar ligados ao que os filhos estão, para entender o que estão fazendo online. Há cursos, plataformas e projetos que promovem educação midiática acessível e transformadora. Nós, aqui do Educar para Ser Grande, fornecemos esse conhecimento, basta nos contatar.
Estimular a empatia e a inteligência emocional, entendendo que crianças emocionalmente amparadas e ouvidas de forma ativa tendem a ter menos comportamentos impulsivos e mais capacidade crítica diante de situações de conflito.
Educar para o presente e o futuro
O caso de Itaperuna, no Rio de Janeiro, não pode ser tratado como uma exceção ou como resultado de um único fator. Ele é sintoma de uma sociedade que ainda se esquiva da responsabilidade coletiva de educar para o mundo conectado. É urgente que escolas, famílias e instituições públicas assumam o compromisso de formar cidadãos conscientes também no ambiente digital.
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📌 Para saber mais sobre como aplicar a educação midiática em casa ou na escola, acompanhe nossos conteúdos no site Educar para Ser Grande e nos contate para palestras, workshops e cursos.