Merlí, série disponível na Netflix, narra a história de um professor de filosofia, Merlí Bergeron (interpretado por Francesc Orella) que revoluciona uma escola de Barcelona, na Espanha, ao chegar na escola no meio do ano.
Ele se conecta com os alunos e com seus problemas típicos da idade, caindo nas graças de todos, levando-os a questionar a realidade que os rodeia, e até se rebelar contra as convenções e tudo o que a sociedade acredita ser correto e imutável, mas que já não faz mais sentido para eles. Ao mesmo tempo, Merlí é um sedutor e, com seu dom de uso certo das palavras, acaba por seduzir todas.
A série é um produto bem feito, que provoca reflexões e oferece alguns aspectos positivos, não sendo apenas entretenimento simples sem conteúdo. Merlí discute os temas existenciais fundamentais da reflexão humana ao longo da história, questões sobre a vida e a morte, felicidade, poder etc..
Tais questionamentos sempre foram feitos, mas o seriado nos oferece algumas possibilidades de respostas por meio do uso de citações de grandes filósofos da história, além de apresentar outros autores que não são tão conhecidos.
A filosofia é uma questão importante, como a história, pois são os assuntos que o convidam a refletir sobre o meio ambiente e a vida humana em sociedade, e ao mesmo tempo, são aqueles que desafiam a sociedade e o poder estabelecido. Sem esses materiais, é mais fácil manipular as pessoas e até mesmo toda uma população.
Por este motivo que Merlí é uma série positiva, porque por trás da ficção, há importantes críticas à sociedade atual, crise econômica e crise dos valores.
A cada episódio, a série Merlí relata o pensamento de um determinado autor ou filósofo sobre algum aspecto da vida com os mesmos problemas que os adolescentes catalães têm no início do século XXI e aponta como as respostas filosóficas emitidas há séculos podem ser válidas em muitos casos até hoje.
Os retratos dos discípulos de Merlí – chamados por ele de Peripatéticos, referindo-se aos discípulos de Aristóteles – não deixam de seguir certos estereótipos, mas o ponto que chama mais atenção é a educação.
O professor de filosofia não é nada ortodoxo e, por isso, sofre rejeição por parte dos colegas de profissão, e em muitos casos a liberdade do docente é engolida pela burocracia.
A burocracia e o conservadorismo infelizmente comum no meio educacional são muito bem representados na segunda temporada pela personagem Coralina, que chega ao instituto como chefe de estudos. Uma mulher de “cabeça dura” que se torna uma pedra no sapato de todos, inclusive do diretor, Toni.
Coralina, que também é professora, leciona história e se torna o extremo de Merlí, uma vez que ele é nada ortodoxo e ela é conservadora e tradicionalista.
Em suma, é uma série recomendável, com cenas muito críticas, como o jogo de futebol entre travestis e importantes momentos irônicos; muitos deles, protagonizados pela mãe de Merlí, Carmina Calduch.
Reflexo na vida real
Coincidência ou não, após a exibição da série na Netflix, as matrículas para as faculdades de filosofia aumentaram consideravelmente na Catalunha. Este número foi associado ao sucesso da audiência de Merlí.